Discurso de saudação à posse de Igor Fagundes no Pen Clube
do Brasil
ASTRID
CABRAL
Senhor Presidente, escritor Cláudio Aguiar
Senhoras e Senhores
A generosidade dos amigos me comove, embora
às vezes também me assuste. Ao ser distinguida por especiais convites, como este
de saudar um novo membro, penso quanto o afeto pode ser temerário e o coração, subestimando
o juízo crítico, ultrapassa o bom senso.
Quantos colegas do Pen, alicerçados em
vastos conhecimentos teóricos, não comentariam e comemorariam melhor que eu a
honra que constitui para esta instituição receber Igor Fagundes como um de seus
componentes? Porém, em nome de nossa amizade, fui por ele escolhida para acolhê-lo.
Considero a festa de agora algo
relevante, pois na sucessão de momentos banais e efêmeros de que é feita a
vida, torna-se fundamental que a insólita memória de uma celebração, guarde o
que, imperceptível, costuma se apagar, preservando assim o finito no infinito
da saudade.
O jovem escritor, que ora toma posse como
membro desta respeitável Casa, sempre me surpreendeu, conquistando minha
admiração pela precoce maturidade de sua cultura, pela total fidelidade à
vocação literária e, sobretudo, por seu talento cintilante e caleidoscópico.
Igor
é poeta, ensaísta, crítico, dramaturgo, ator, jornalista, professor mestre e
doutor. Tudo isso comprovado em notável quantidade de livros já publicados (7
ao todo), de numerosos trabalhos inéditos e esparsos, além de títulos obtidos
em respeitáveis concursos públicos e 60 prêmios literários.
Foi através da escritora, editora e amiga
Helena Ortiz, que me chegou às mãos Sete
mil tijolos e uma parede inacabada. Com invejável perspicácia, Helena já
sabia que o autor era um autêntico prodígio literário. O que logo me tocou
nesse livro foi o fato de constatar influências inventivamente assimiladas,
demonstrando, sem subserviência, o salutar convívio com os mestres da tradição
poética brasileira.
Livros
recentes de muitos jovens surgem abafados com o sotaque cabralino, xeroxes da linguagem
seca, do timbre didático e visual, bem como da submissão à estrutura geométrica.
São os inevitáveis epígonos do grande poeta que, de modo canhestro, homenageiam
seu ídolo.
Temos, porém, na mencionada obra de Igor
Fagundes, um livro forte, inconfundível, que não consiste em aleatório depósito
de versos, mero resultante de processo emocional. Eis que está construído
dentro de nítido projeto de pensamento, sem excluir, no entanto, o lado afetivo
nem o sensorial de discreta musicalidade e mais que eficiente imagética. Nele
vigoram sempre, longe de estática rigidez, o equilíbrio do fio a prumo, a unidade
da proposta, mesmo nos mínimos detalhes. Assim, por exemplo, a isonômica página
inicial de dedicatória, em forma de parede verbal, feita graficamente com a
cerrada enumeração de nomes próprios dos amigos e da relação de objetos
essenciais à vida pessoal e social do autor.
Ressalte-se a evidente coerência que Igor
mantém entre o tema e sua execução formal, a frequente simetria de versos e
estrofes, o equilíbrio entre pensar e sentir.
Se o poema inaugural “Educação pela
parede” nos remete ao quase homônimo título do livro de João Cabral Educação pela pedra, sugerindo certo
parentesco literário com o mestre, convém necessariamente lembrar os significativos
versos que nele surgem: A educação pela
parede quer-se exata, / mas o que é do homem foge ao cálculo e à régua.
É a lúcida percepção da complexidade do ser
humano, aí aludida, que lhe permeia a voz, capacitando-a de assumir o lado
afetivo. Emancipado da fria impessoalidade, o poeta incorpora as singularidades
do individual e abre-se à expansão do eu lírico.
O
poeta Igor Fagundes não se restringe às coordenadas do concreto, nem à limitada
visão do objetivo imediato. Eis que ele atravessa a bruta engenharia do físico,
em busca da invisível “quinta parede” que repousa na casa-corpo, portanto, no reino subjetivo. No poema “Diário” ele
confessa: Nunca fui de me render às
cercas e em “Morada”: estabelecer
laços/ romper cercas // redescobrir o
abraço/desabraçar muralhas.
Se, em alguns momentos do livro, a
cotidiana casa do rotineiro dia a dia se configura, revelando o desconforto do
indivíduo confinado entre 4 paredes, em outros o poeta com ela se mistura em
metafórica comunhão. O poema “Epidemia” exemplifica tal simbiose e a casa surge
como grande símbolo do mundo onde o ser humano, estrangulado, se debate em
busca de liberdade.
Parece-me importante destacar o conteúdo
altamente simbólico de Sete mil tijolos e
uma parede inacabada, já que o trabalho de construção real ou verbal
(tijolos de ações ou de palavras) impulsiona o homem a erguer a parede inacabada que é a vida.
Abarcando a ampla temática do existencial,
que contempla corpo, amor e arte, o autor desse livro expõe, com segurança e
contenção, o testemunho de sua experiência no mundo. Revelam tais versos a
consciência crítica que orienta os verdadeiros criadores de arte, os quais sempre
se empenham com fervor em busca do inalcançável acabamento.
Igor Fagundes estreou em 2000, com os
dezesseis poemas de Transversais,
reunião premiada, mas por ele considerada como simples pré-estreia. Já Sete mil tijolos e uma parede inacabada é
de 2004. Em 2006 publicou Por uma gênese do horizonte, a partir de poema
homônimo do livro anterior, e finalmente em 2010, Zero ponto zero.
Se, no livro de 2004, Igor se prendia ao clássico elemento
pré-socrático da terra (implícito nos tijolos e na parede), é o elemento
líquido o núcleo metafórico de onde Por
uma gênese do horizonte emana seus versos. Isso vem assertivamente
enunciado no portal do livro, onde se lê a epígrafe: Tales de Mileto, um dos sete sábios,/ disse que a água é o começo e o
fim de tudo./ Dela, por composição, fazem-se todos os seres/ e, inversamente
quando eles se desfazem,/ todos voltam a ela. E acrescenta o comentário de
Sêneca em Temas Naturais: o mundo está apoiado sobre a água,/e que ela
viaja/como navega ao modo de navio,/e que flutua movente.
Mas, partindo das 6 estrofes alexandrinas
do poema inicial Por uma gênese do
horizonte, o autor vai pouco a pouco se detendo em cada uma delas,
desdobrando-a em várias outras composições, que passam a compor as 6 unidades
que perfazem o livro inteiro. Observa-se, portanto, como no livro anterior, a nítida
consciência de uma engenharia de construção poética, o que paradoxalmente
contrasta com a fluidez do elemento líquido. De modo coerente, o poema “Geografia”
insiste na meta de um equilíbrio entre o excesso do pântano e a secura da
caatinga, sugerindo a apolínea aurea
mediocritas da medida, nem tanto ao mar nem tanto à terra. E mais adiante, em outro poema: vá/ palavra/..../contra qualquer adjetivo
que em excesso/ abale o fértil de gozar mais de um sentido. Nos versos de “Poética” lê-se a eloquente afirmativa: deixar
que na medida habite o sem-/medida, o aberto que lhe sobrevém/e na constância,
o que é mudança tente/o contraponto que fecunde o rente.
Podemos afirmar que Igor Fagundes labora
dentro de uma estética do rigor, criando poemas de cunho eminentemente
intelectual e crítico, mas onde a imaginação ousada voa além da grade dos
versos, deixando florescer a complexidade do claro e do escuro, o campo do
visível e do invisível. É que ele não despreza lances surrealistas, como se vê
no poema “Manchete”, onde nos fala de uma
estrela atropelada e, no percurso da obra, vai se envolver sensual e apaixonadamente
com o mistério da criação poética.
Embora o eixo temático de Por uma gênese do horizonte seja de
ordem mais abstrata, podendo ser ilustrado nos versos: um livro nasce/ na gênese/ do que não se alcança/eterna miragem,
não se pode ignorar a constante dos relacionamentos humanos que subjaz na
grande maioria dos poemas, apontando a ocorrência da subjetividade e até a
busca do recíproco retorno emocional, uma vez que vê na poesia, como declarou
numa entrevista, a dinâmica originária de
humanização do homem.
Ressurgem em Zero ponto zero, simultâneos à inegável originalidade da obra, os
princípios estéticos que comandam a elaboração de seus livros anteriores, aquele
habitual pendor matemático que rege e organiza o conjunto com lucidez e
precisão.
O poema “Ponto zero”, centro fulcral na arquitetura desse novo livro, estabelece o
marco em torno do qual 31 poemas convergem em movimento centrípeto e outros 31
divergem em direção centrífuga, novidade que revoluciona a paginação
tipográfica, cujos números em duplicata são precedidos ora de sinais positivos,
ora de negativos. Nos versos de cunho conceitual do já citado poema, o autor alude
ao limite do extremo:
menos que o zero: o sem-número, a
núpcias/
de deus com si mesmo, o nada com coisa/
nenhuma, ausência fecunda, a que
(a)funda/
o campo poético em campo magnético/
em magma quântico, em verso pré-ôntico/
disperso em águas sem frinchas, sem
fundo/
Enquanto isso, no poema “Zero ponto” é do simples tema da minuciosa pontuação
verbal que ele se ocupa, alternando, pois, a visão macroscópica com a
microscópica.
Igor Fagundes, como poucos, prescruta e
navega pelos mares da abstração, enveredando pelos campos do filosófico, o que
não lhe impede a percepção da concretude humana. O fato é que se debruça tanto
sobre a natureza do ser, quanto sobre a natureza social e tecnológica de nossa
condição. Numerosos poemas exploram o subterrâneo terreno do erótico, outros
comentam o atual mundo cibernético; em “Mundois”,
o flagrante contraste cultural entre Ocidente e Oriente. Alguns se concentram
sobre a criatividade do artista, questões de ordem estética, outros sobre o sagrado
e o profano, o imediato e o transcendente.
Na segunda parte de Zero ponto zero, o poeta, seduzido pela perfeição matemática e levado
pelo constante zelo artesanal, começa por enquadrar cada poema intitulado por
algarismo, dentro de estrofes de idêntico número. No entanto, partindo de
reflexões aparentemente abstratas, vai adentrando na realidade de contingentes situações
existenciais e explorando a complexa multiplicidade humana.
Se, por um lado, o autor com frequência se
impõe a disciplina das formas poéticas, valendo-se de parâmetros consagrados
pela tradição e da rigorosa métrica, costuma utilizar a linguagem com absoluta
liberdade, harmonizando a dicção culta com a coloquial, incluindo até mesmo a
popular de caráter chulo, conforme as intrínsecas exigências de cada
circunstância poética. A propósito, lembremos a composição em alexandrinos de “Vale-compras”,
cabal exemplo de seu amplo e preciso domínio vocabular.
Nota-se, além disso, grande sutileza de timbres,
o tom enfático característico de certos poemas e o humorístico e irônico que
predomina em outros. O poema “Manequim”
arremata com a estrofe:
em frente com teu ego pegajoso/inflado até
no culto ao adiposo/que exibes quando insistes na resposta:/ ‘de um pneuzinho
há sempre alguém que gosta!’. Em
“Contagem regressiva”, Igor comenta a duvidosa retórica religiosa: como insistir no capital dessa
conversa?/comprar a prazo um sala-e-quarto lá no céu?/uma prisão no inferno com
janela?/ao fim do mês a deus se paga um aluguel?/e não se pode escapulir das
celas?/quando ao capeta uma gorgeta e...créu? E que dizer do corajoso
sarcasmo de “Conferência”, onde denuncia o palavrório vazio de solenes, empolados
textos acadêmicos?
Em certos momentos Igor Fagundes demonstra
espírito crítico altamente ferino, tal a zombaria com que ataca o romantismo
sentimentalóide, as falsas estratégias comportamentais em prol da felicidade,
os reles aspectos consumistas do mundo urbano.
No entanto, a recorrência primordial ao
longo das páginas de seu último livro, há de ser a da criação poética com sua desconcertante
ambiguidade, pois segundo Igor: o
infinito começa onde termina/a palavra ou o infinito termina onde começa/a palavra.
Importante é a produção ensaística de
Igor Fagundes, que já consta de 3 livros e de numerosos esparsos. O exame dela
aponta, de um lado para a perspectiva original adotada na leitura dos textos, e
de outro para o embasamento teórico, atualizado e pertinente, que o respalda para
investigá-los até a medula, sempre com a maior competência exegética.
Aproveito a oportunidade para externar
aqui imensa gratidão pelo prefácio que, em 2006, ele preparou para meu livro Jaula, ultrapassando as mais otimistas
expectativas, com um estudo profundo e abrangente. Por meio de seu luminoso
texto, pude melhor perceber o que eu havia escrito levada pelos caminhos do
inconsciente e da intuição. Igor Fagundes, com extrema sutileza, afirma,
lembrando Deleuze, que aí escrevo não só para
os leitores, mas pelos bichos. Além
disso, dialogando com Guattari, percebe a ecosofia que há em meu bestiário, e capta,
à luz de Agamben, a tensão que exploro entre a irrecusável semelhança e a
irrecusável diferença, que, nós humanos, mantemos com os animais.
Incentivada por tamanha generosidade,
ousei no ano seguinte solicitar-lhe outro prefácio, agora para o poemário Ante-sala. Deslumbrada e enternecida, conferi novamente a comunhão
poética que revelou comigo em seu arguto olhar sobre o caráter ontológico dessa
obra.
Finalmente, para minha absoluta surpresa
e alegria, o livro coordenado por Helena Parente Cunha em 2011, Violência simbólica e estratégias de dominação, inclui um estudo de 30
páginas, de sua autoria, intitulado: “Fingir até doer/ Ensaio de um homem
quando Astrid”.
Contrapondo-se teatralmente à violência
simbólica do mundo patriarcal – apontada por Pierre Bourdieu – Igor Fagundes,
num insólito rasgo de imaginação, se propõe a interpretar o papel feminino da
poeta, ou poetisa como preferem alguns, arrostando a gravidade dessa mudança de
gênero. Mudança que vai ocorrer, de modo concomitante no campo do gênero
literário, já que o ensaio adota um sui
generis desenvolvimento híbrido, adotando o ficcional, com ponderações de
cunho intimista, rejeitando a pesada armadura teórica da bibliografia e da
impessoal análise, cuja desnecessária ciência chega, muitas vezes, a cometer
violento desrespeito à poesia que é, antes de tudo, arte.
Dispensando racionais ponderações contra
a violência simbólica de que são vítimas as mulheres, Igor encena uma inversão dramática
exemplar quando se coloca sob o domínio do feminino e, submisso, procede a uma
experiência vital sob a égide poética da mulher que assume com vigor essa
condição, euzinha.
Esse trabalho vem republicado no livro 33 motivos para um crítico amar a poesia
hoje, também de 2011, e que constitui um expressivo panorama poético de
autores contemporâneos de várias gerações, alguns estreantes, mas com
predominância dos que já se consolidaram através de fecunda produção. Em todos
esses textos, de variável tamanho, ao comentar livros recentemente lançados, a
qualidade da apreensão crítica de Igor é indiscutível. Ninguém mais antenado
que um poeta de sua estirpe, além de scholar
de alto nível, para adentrar nos meandros da linguagem polissêmica e singular
de seus pares.
De certo modo, este livro veio para dar
continuidade e afirmar a poderosa vocação do escritor para a análise e a
reflexão crítica sobre a literatura, já manifesta no volume de Os poetas estão vivos, pensamento poético e
poesia brasileira no século XXI, lançado
em 2008 e premiado pelo Conselho Cultural da Prefeitura de Manaus.
Ainda me lembro do entusiasmo com que meu
amigo, o falecido poeta Anibal Beça, criador das Edições Muiraquitã e
organizador do programa de premiações no Amazonas, me comunicou a vitória de
Igor Fagundes, bem como a surpresa que manifestou ao saber que já nos
conhecíamos.
O pensamento de Manuel Antônio de Castro,
que figura na obra Permanecer silêncio, lançada
no final de 2011 pela editora Confraria do Vento, é seu último trabalho
publicado. Trata-se aí, não de um trabalho de crítica literária como os
anteriores, mas de texto em que Igor Fagundes também se revela como pensador, ao mesmo tempo em que homenageia
seu grande mestre, titular de Poética da UFRJ.
A
extraordinária abertura de espírito de Manuel Antônio de Castro, diante das fundamentais
questões de ordem filosófica, conquistou Igor em definitivo, fazendo dele seu
devoto discípulo. Fora de enquadramentos e sem propor teorias, o emérito mestre
o arrebata pelo fato de conduzir a clareza de raciocínio àquilo que está além e
aquém do consagrado, bem como por incentivar a liberdade de cada um pensar o
ser, sem alienar-se de si próprio ao tomar como parâmetro ideias alheias.
Igor Fagundes vai encontrar na filosofia
de Manuel de Castro princípios que coincidem com suas intuições pessoais, como
aquele do predomínio da vida sobre a arte, uma vez que escrever, para nosso
autor/ator, é experiência corporal.
Assim, se Manuel de Castro diz que Poética não pertence às Letras, mas à Vida
e Para se chegar à arte como questão é
necessário deixar que o exercício intelectual se torne uma experienciação de
vida, Igor, em recente entrevista online
a Selmo Vasconcellos, declara: Só é
possível escrever na medida em que algo espantosamente já ganhou e ganha corpo
em nós; na medida em que vida, portanto, já se tenha exclamado e,
abismando-nos, abismando-se, nos questione.
No decurso
de seu ensaio, Igor Fagundes analisa o diálogo que Manuel Antônio de Castro
mantém com o ontopoético, com Martin Heidegger, com a poesia de Alberto
Caieiro, com a literatura mítica de Guimarães Rosa, com a procura do originário.
Para Igor: É na poeticidade da palavra mítica que mais propriamente se encontra o
caminho, a verdade, a vida anterior aos sujeitos e aos objetos.
Conhecedor não apenas dos mitos gregos e
hebraicos, como também dos iorubanos, ele tece profunda reflexão sobre a etnocêntrica
interpretação dos conceitos orun e ayê, mostrando o desacerto da teoria
europeia ao lidar com eles.
Ao tratar dos vários temas filosóficos que
ocupam a obra do pensador Manuel de Castro, tais como realidade, identidade,
silêncio e linguagem, natureza e cultura, e a criação artística em especial,
Igor Fagundes expõe sempre o necessário lastro acadêmico para comentar com
segurança essas questões fundamentais.
Se até aqui nos detivemos sobre as
contribuições do escritor nas áreas da Poesia e do Ensaio, passemos a suas
incursões no terreno da Narrativa, campo de criação aludido ao final da sigla
do PEN Clube.
Em mais de um depoimento pessoal, colhido
em entrevistas, nosso novo associado se refere a seus primórdios ficcionais.
Escolho um deles: Quando não sabia ainda
escrever, contava histórias. Para os meus pais, para os vizinhos, para os
amigos, para quem quisesse as ouvir. Tentava desenhar quadrinhos, para posteriormente
narrá-los. Ou inventava tramas insólitas com bonecos. Mais tarde eu passaria de
narrador a ator desses enredos. E já alfabetizado: queria mesmo me tornar autor de novela, de roteiro de cinema,
televisão. Tenho até hoje os manuscritos guardados.
De certo
modo, dentro dessa mesma área criadora, Igor Fagundes escreveu e dirigiu 3
peças de teatro, tendo atuado em 14 delas, tornando-se um aplaudido ator.
Além dos 7 livros que foram aqui
sumariamente inventariados, diga-se que ele é organizador e co-autor de quase
30 títulos, bem como colaborador assíduo de respeitáveis publicações e
instituições de arte, filosofia e literatura no país, inclusive da Academia
Brasileira de Letras.
Ao lado da obra documentada em tinta e
papel, não se pode omitir sua intensa atuação no cenário cultural e educacional
carioca, implícita no entrosamento com seus pares e na militância profissional
como professor de Filosofia e Estética da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Cabe lembrar que conquistou essa posição de grande destaque, graças ao
título de Doutor em Poética com a originalíssima tese A incorporação --Poética na encruzilhada.
Ao encerrar esta saudação, insisto em
reiterar que é uma honra tê-lo agora tão próximo de nós, na condição de membro
do Pen Clube, bem como externar a intensa alegria que sinto ao testemunhar de
perto essa explosão de efervescência artística e talento, canalizados para o
enriquecimento de nossa literatura e vida cultural. É também consolador pensar que enquanto
tantos poetas e escritores da minha geração já embarcaram para desconhecidas
paragens, outros bem mais jovens permanecem dando continuidade a seus projetos,
mantendo acesa, com muita fé, a sagrada chama da criação literária e da
convivência fraterna.
Para mim, ninguém melhor que Igor Fagundes como
exemplo da força vital que anima os seres humanos e de que nos fala Manuel Antônio
de Castro: A energia poética é a essência
de todo agir, o sentido de todo fazer e até do não agir e do não fazer, do ser
e do não ser.
Rio de
Janeiro, 13 de novembro de 2013.